segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dúcteis Lembranças


A lufada tocava em mia face levemente pilosa. Cerrei meus olhos e transpassei para um universo totalmente paralelo, distante, mas mesmo assim; tão próximo de mim, próximo de meus desatinos, tão próximo finalmente, de meu Amor!Um campo forrado por videiras cobria a paisagem úmida daquele formoso lugar! Andei esguio por entre as belíssimas parreiras e ao longe, avistei um ímpar e solitário, mas frondoso carvalho. Suas castanhas despencavam àquele suntuoso gramado, guarnecendo o verde, em pitadas marrons das fagáceas.

Sentei-me abaixo daquele presente da natureza, fitei aos céus nebulosos, mas d´uma vivacidade e beleza incomensuráveis e presenciei a faustuosa obra das alturas. Gotículas d´orvalho ainda podia sentir com o toque de mia tez sobre a relva e poucas milhas dali, sobre as montanhas verdejantes, algumas casuchas se defrontavam com a grandiosidade daquele ambiente menálio, mas totalmente acolhedor e sereno.

Acamado sobre a relva, não muito distante dali, ouvi um cântico que por sinal, um belíssimo hino feminil, qu´era soado em notas suaves e coerentes ao relento.
Abri levemente meus olhos e num tatear visual tive o meu primeiro contato com aquele ser magistralmente belo!
Ornada em um vestido camponês acinzentado e espartilhado, saltitava sutilmente pelo campo florido. Envolta numa ternura infante, suas melenas doiradas dançavam por suas espáduas femíneas e seu sorriso, ah, tamanho eram os gracejos daquela face sorridente que de antemão, tomou-me d´uma paixão e nostalgia infindáveis e sublimes.
Trafeguei-m´então, em sua direção. Ela, inerte, navegou com seu olhar esmeraldino aos meus caramelados. Nossas almas ali se tocaram, interagiram de maneira a irrigar uma à outra com total devoção e candidez! Mias mãos delgadas tocavam a alvura de sua tez veludínea. Seus olhos então cerraram-se d´uma ternura eternal a afigurar-se a um ser angelical. Seus rubros e finos lábios osculavam a estrutura de mias mãos e num gesto ameno ela tornou a olhar-me dizendo em voz doce e branda:
- Amado, vieste!
Ah, aquela voz, os toques, o olhar, os sentimentos eternais os quais não pude conter, perfaziam uma nostalgia em todo o meu ser eriçado. Aquilo tudo, tinha um nome: Amor!
Revidei ao seu olhar sempiterno e respondi:
- Sim, cá estou, vida mia; cá estou para estancarmos as dores mundanas e concretizarmos nossos reais intentos d´Amor.
Tomei-a em meus braços e a abracei varonil, vertendo nossas emoções em lágrimas de saudade e devoção.

Podia sentir um lume ofuscante a escorrer sobre nossos orbes, o perfume frutuoso vindo de sua esfera cativante, ouvia os sonidos dos animais silvestres os quais faziam parte daquele lugar e em mia mente, um filme distante se fazia presente; lembranças de todas as nossas eras amantes.

Depois daquele abraço eternal, nos fitamos, e com um beijo estridente d´Amor, realçamos nossos corpos à beleza ímpar daquele lugar. Oh, quão saboroso eram aqueles ósculos onde nossas línguas s´adocicavam no salivar d´uma paixão milenar e eternal.
Sobre o orvalho daquele gramado sereno, nos amamos e levitamos ao que de melhor o amor podia nos regozijar. Desfalecidos ao dúctil libar, acordamos, nos idolatramos e aos poucos nos levantamos.

Andamos pelas videiras, passeamos pelas verdes montanhas, acompanhamos o por do sol e o arrebol cair.

Foi então, que a lufada tocava novament´em mia face levemente pilosa. Entreabri meus olhos, meneei a cabeça d´um lado a outro e na penumbra a ouvi, me chamando, me Clamando em súplicas desesperadas.

Ela, no mundo real aos prantos, m´ouvia, eu, do outro lado da vida, lhe queria; lhe desejava. Olhei ao meu regaço e deitada, uma rubra rosa descansava; almejand´o meu toque de homem amante. A última lembrança de meu Amor.

Naquele século o destino havia nos separado pela carne, mas nossas almas jamais se descompassariam uma d´outra! Pois, a partir daquela data, seríamos ao eterno, um mais um =
nós!


Tiago Calegari



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