domingo, 11 de julho de 2010

††...Lôbrega vereda...††



Gélidos sonidos das altas badaladas dos sinos doirados, oriundos da santa catedral central, percorriamm em mia direção. Meus ouvidos zuniam, saltitavam a cada estampido desta dor auricular, perfazendo o trajeto soado ao meu triste e ínfimo coração. Reles órgão adornado por veias caóticas e sentimentos azedos, amargos, acres, ácidos; d´um respaldo delicado das frívolas mãos da morte!
Meu corpo estava ali, jazido sob as brumas empalidecidas, acamado ao meio daquela inóspita e tosca rua.
Podia ouvir os miados dos negros felinos, saltitando aos muros em busca de alimento, os grasnados dos doces corvos, ah, criaturas pérfidas, mas d´uma beleza incomensurável.
Lá nas frondosas montanhas, a matilha lupina se reunia, e num bailar sinfônico, uivavam para a grandiosa rainha da noite: a belíssima lua prateada, encoberta pelas negras nuvens.

Meu corpo, antes peralta e azafamado, esmorecia lânguido a cada pontada afiada em meu sorumbático peito. Sim, ela me tocou, fria, reles, categórica.
Podia vê-la montada em seu negrume corcel, baforando pelas narinas, resmungando palavras codificadas, entoando seu hino noctâmbulo, levando mais um´alma para sua cinérea morada.

Meneava eu, resfolegante, d´um lado a outro, tentando erguer-me da frieza daquela pétrea rua. Meu assassino ainda por perto, apenas observava mia ida ao outro lado, armado com seu punhal lívido e ensanguentado, cúmplice de seu crime. Ao seu lado, uma horda de vampiros e demônios o assistiam, e assim, zelavam para que mi´alma fosse para junto de sua fome e ganância.

Mas eu era forte, astuto, sagaz. A luta era constante: d´um lado, amortalhada e prestes a me levar - a morte - d´outro, meu assassino com sua legião de maldade, pretendendo extinguir-me dos campos luminosos e de mia paz profunda.

A lua então, desnudada pelas nuvens e se apresentando prateada ao meu orbe, fundiu-se com mia energia transcendente e num bailar de lufadas, meu corpo iniciara a transformação!

O assassino, não acreditando no que presenciava, arremessou o punhal contra meu corpo, agora piloso e tomado por uma força indizível, e em total desespero, tentou fugir.
Meus olhos rasgados e arregalados em tons amarelos alaranjados, o acompanhavam, meus aduncos com unhas afiadíssimas aguardavam o momento exato de esfacelar aquela carne crimonosa. A morte, d´outro lado, meneava seu corpo na tentativa de cobrir o meu, todo selvagem e indômito.
Totalmente transformado em um licantropo, ergui-me para a lua, mia fiel companheira daquela noite, uivei em alto som, clamand´aos animais noctívagos e a tod´o meu poder taciturno.

A descida das montanhas não foi obstáculo para os lobos, que seguindo mi´energia, cercaram o bandido. Os corvos em pousos rasantes, bicavam os olhos, ouvidos e cabeça daquele pobre infeliz.
A luta era constante, mas inválida. Os lobos, aos poucos, foram arrancando os membros do bandido, enquanto qu´os negrumes pássaros s´alimentavam de suas entranhas.
Eu, de longe, apenas acompanhava astuto, espumando pelas ventas e em porte firme e austero sobr´a rua.
Quando estava prestes a desfalecer, em um só golpe, arranquei-lhe a cabeça com tod´o poder de meus aduncos, exaltando toda mia fúria e imponência perant´aquele pobre ser.

Os vampiros e demônios me fitavam, queriam guerra, almejavam iracundos o meu fim.
Num só pulo definhei um a um, arranquei os chifres dos demônios e estanquei a mia bandeira sobre eles, a mia impressão, a marca da licantropia.

A lua, aos poucos, fora tocada novamente pela negrura das nuvens,
e eu, podia ouvir o galopar da senhora das almas novamente ao meu lado, tocando com suas gélidas mãos o meu corpo, a mi´alma, a mia vida.
Sua voz ruidosa ao pé d´ouvido, chamou-me, e num galopar incisivo levou-me ao seu vale, onde somente lá eu teria a paz que tant´almejava! Estava totalmente à sua mercê e finalmente em paz profunda!

Tiago Calegari

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